Otto Alencar fala de projetos políticos em busca de mudar realidades

22 de Novembro de 2013 18h11

No quesito política, Otto garante que permanece com espírito de time, mas pede que seja respeitada sua intenção de disputar o Senado. Negou também que não queira ser vice-governador de Rui Costa e atestou ue todos os pré-candidatos têm igual potencial e c

Por: Luiz Fernando Lima e Lucas Esteves


O vice-governador do Estado e secretário de Infraestruturas Otto Alencar conversou com exclusividade com Luiz Fernando Lima e Lucas Esteves e refletiu sobre seu pretendido futuro político. Ao tentar o senado, Otto deseja lutar para mudar realidades de burocracia e corrigir erros que, em sua opinião, inviabilizarão o Brasil no futuro se permanecerem como estão.

O ex-carlista defendeu também a memória do falecido senador ACM e disse que tem desprendimento o suficiente para permanecer na aliança com Jaques Wagner sem precisar renegar seu passado. "Tenho horror ao auto-elogio". Para ele, o governo Wagner deixará grandes legados e, de sua parte, o trabalho de recuperação de estradas será referência no futuro, mas se o Governo federal não fizer sua parte, os próximos governantes terão grandes dificulade para manter a qualidade das pistas feitas atualmente. 

No quesito política, Otto garante que permanece com espírito de time, mas pede que seja respeitada sua intenção de disputar o Senado. Negou também que não queira ser vice-governador de Rui Costa e atestou ue todos os pré-candidatos têm igual potencial e competência, mas que seu caminho agora é outro dentro da política brasileira e baiana.

Confira abaixo na íntegra!

Fotos: Juarez Matias/Bocão News

Bocão News - O que aconteceu há duas semanas com o ferry boat, quando só houve duas embarcações disponíveis? Muitas pessoas ficaram apreensivas. Aparentemente teve o ferry Pinheiro que teve de ser rebocado...
 
Otto Alencar – Não, não teve que rebocar. O que aconteceu foi que o Ivete Sangalo teve um problema com o motor, parou e voltou imediatamente, no outro dia de manhã. O outro foi o Juracy (Magalhães), que teve um problema na propulsão mecânica, mas também foi lá e resolveu. O problema é que às vezes não temos vagas aqui para fazer os reparos e temos que mandar para o estaleiro em Aracaju. Se eu pudesse fazer os reparos aqui, em oito dias ele estaria em operação novamente. Não é uma coisa tão simples. Hoje estão parados o Maria Bethânia, que está fazendo revisão, e o Rio Paraguaçu. Temos cinco funcionando. De todos os sete ferries da intervenção, só o Anna Nery estava razoável, que depois teve que parar para recuperar. Todos os outros estavam sucateados. Fizemos agora uma pesquisa e, quando fizemos a intervenção, o nível de satisfação era zero. Hoje já está mais ou menos empatado: 42% (do público) disse que melhorou e 47% disse que está na mesma condição. Mas quero dizer que a intervenção foi uma coisa necessária, decisiva. Até porque, se não fizéssemos isso, no final do ano passado nós não teríamos um barco funcionando.
 
BNews - Os dois novos chegam quando?
 
OA – Os mais novos devem chegar em janeiro. Tem toda a parte de alfândega, desembaraço com a Receita Federal. A Anvisa. Lhe digo com toda a sinceridade que, das coisas que peguei para tomar conta na minha vida, a que senti mais dificuldade de fazer – e em determinado momento até completamente importante em resolver, foi essa questão do ferry boat. Há que se lembrar que a relação da Agerba antes de que eu tomasse posse como secretário era uma relação que deixava muito a desejar com a TWB. Você deve lembrar que saiu diretor da Agerba algemado na primeira gestão. Não é uma coisa tão simples assim de consertar.
 
BNews - Há como explicar qual a diferença do trabalho que era feita pela TWB e o da Internacional Marítima?
 
OA – Nós temos agora poucos barcos, não tem como fazer hora marcada. Só vai ter condição de fazer isso com a chegada dos novos ferries. Aí também pode ter transporte para veículos de maior peso. O ferry quebra como quebra o meu carro, o seu carro, uma moto. Tem que fazer revisão de casco, ultrassom. O Juracy mesmo, se eu permito que a TWB colocasse em tráfego assim que eu assumi, nós teríamos um acidente na Baía de Todos os Santos que seria uma coisa incalculável. Porque ele não tinha nenhuma condição de fazer o tráfego com segurança. A minha preocupação não é com fila e nem com reclamação. É com a vida das pessoas. Eu fiz a intervenção e impedi. Cheguei a ficar uma manhã sem nenhum barco, mas só permiti o tráfego com segurança para os passageiros. Nós teríamos uma situação tipo o Bateau Mouche. Uma coisa que eu queria chamar a atenção é que esta questão do ferry já vem há muito tempo com muitas dificuldades e é um serviço que não tem muita credibilidade. Por isto, uma pequena minoria dos usuários age com depredação dos ferries. Nós tivemos um cuidado de recuperar os ferries e o que nos preocupamos mais foi com as instalações sanitárias. E elas estão sendo frequentemente depredadas. Quebram vaso, descarga, se entope descargas. Tem que parar o ferry para consertar. Por que isso? É porque o povo baiano não é educado? Não. O povo baiano é sim um povo educado. Mas a tradição sempre foi de causar problema. De espera, de não ter condição de segurança, higiene, filas. Mas isto já está começando a acabar. Os dois ferries que estão vindo aí tem quatro vezes mais capacidade de transporte do Maria Bethânia e do Ivete Sangalo. Cada um deles custou ao Estado à época R$ 39 milhões. Esses dois, juntos, custam R$ 54 mi. Com quatro vezes a capacidade. Ou seja, R$ 12 mi a menos. Veja como foi feita essa aquisição lá atrás. Sei que a coisa ainda não está ainda como nós desejamos, mas posso garantir a vocês que não está havendo desvio de conduta.
 
BNews - Um detalhe interessante da sua gestão à frente da Secretaria de infraestrutura são as ligações rodoviárias entre as cidades. O que o senhor encontrou neste panorama e o que pretende entregar?
 
OA – Desde o início do governo Wagner, em 2007, que ele vem com esta preocupação de melhorar as rodovias de responsabilidade do Estado. Você saia de Amargosa para chegar na BR-116 e era impossível. Foi recuperada em 2007, como tantas outras foram. Do período de 2007 até 2010 já foram feitas 39 estradas de acesso às sedes de municípios. Do período em que assumi, de janeiro de 2011 até o mês passado, já são 50 sedes com asfalto. Será um marco simbólico do governo Wagner a questão das estradas. Falando dos elos rodoviários, fechamos agora em setembro 7.343 quilômetros de novas estradas prontas, de boa qualidade. Se alguém disser que não é, não está falando a verdade. É como qualquer equipamento: tem que ter conservação. Aí ou o Governo Federal restitui a CID, que a presidente fez ano passado, ou então vai ter que criar um novo imposto para conservar as nossas estradas. Nós do Derba fizemos agora uma portaria para que nenhuma carreta pudesse circular na BA com mais de 45 toneladas. Colocamos durante o dia a fiscalização, mas o caminhoneiro inconsciente, inconsequente, trafega na estrada de madrugada com 70 toneladas. O asfalto não resiste ao peso e estraga. Mas o asfalto é de boa qualidade. Algumas das estradas foram feitas e a empresa que fez tem que dar conservação por 5 anos. 
 
BNews - E que trechos considera que sejam os mais representativos?
 
OA – Eu que sou da Chapada Diamantina, ia muito em Irecê, eu saia de Feira de Santana e pra chegar em Irecê. No governo anterior, eu demorava mais ou menos 7 ou 8 horas de viagem, porque era um buraco atrás do outro. Hoje você sai de Feira de Santana e chega a Morro do Chapéu com asfalto de boa qualidade, de lá sai e chega em Irecê com asfalto de boa qualidade, chega em Xique-Xique, de Xique-Xique vai a Barra do São Francisco, atravessa o rio e vai chegar em Ibotirama, na 242, vai para o Javi, do Javi você vai para o Oeste com estradas de ótima qualidade de responsabilidade do Estado. O grau de satisfação é muito grande nessa região. Você sai hoje de Itambé e vai a Vitória da Conquista pela 262, de Conquista vai a Brumado. De Brumado vai a Livramento de Brumado, passa em Caturama, sai na 242 em Oliveira dos Brejinhos, são quase 400 km de estradas de boa qualidade também. Era inviável trafegar naquela região na chuva. Lá no Oeste, a 161 foi feita no governo Nilo Coelho e nunca mais foi recuperada. Nós pegamos Carinhanha, saímos para Marrequeiro, de lá chegamos na Agrovila 10, saímos para Serra do Ramalho, saímos na 349 na Lapa. Fomos até Sítio do Mato, que é outra sede municipal. No Oeste nós fizemos, de locais que não tinham estradas, Baianópolis, Brejolândia, Wanderlei, Cotegipe, Catolândia, Samambaia, São Desidério. Lá, todas as sedes municipais têm asfalto de boa qualidade. Os municípios da divisa da Bahia foram muito esquecidos pelas administrações anteriores. Vamos lembrar o Sudoeste, que tem como centro Guanambi, Cetité. Já fizemos Palmas de Monte Alto, Jacaraci e Mortugaba. Estamos fazendo Sebastião Laranjeiras, Rio do Antônio, Guajeru, Rio dos lagos, Malhada de Pedra e Ribeirão do Lago. Toda as sedes do sudoeste estão com estradas asfaltadas. Outro dia com o governador inauguramos Iraçás-Itanagra. Iamos lá às vezes, para chegar a Itanagra era uma dificuldade. A população lá que assistiu ao ato de inauguração tinha um misto de sorriso e choro, porque não estava acreditando. Aqui na Ilha, em Jaguaripe, não tinha estrada e nós construímos. São Miguel das Matas. Recuperamos toda a 001 da Ilha até Santo Antônio de Jesus. Mas a Bahia é um estado de uma extensão territorial muito grande. São 200 mil km de estradas com asfalto. Até mesmo a oposição reconhece o trabalho nas estradas que o governo está fazendo. E não é porque sou eu que estou fazendo não. Você está falando com um homem que já passou por todos os cargos da Bahia e tem horror ao auto-elogio. Não gosto disso. Poderia ser qualquer um que fizesse, mas é a minha equipe que está fazendo. É o Derba, não é o secretário Otto Alencar. Conheço e faço intensamente o meu trabalho, conheço a Bahia como a palma da minha mão.
 
BNews - Juntando estes dois assuntos, ferry e estradas, você acredita na Ponte Salvador-Itaparica como realmente a melhor solução de saída viária para o crescimento do estado, solução tanto para o ferry como para o tráfego?
 
OA – Sem dúvida. Nós já estamos com um contrato para fazer a sondagem de todo o trecho da ponte. Esta sondagem é fundamental para nos dar a ideia de como será o projeto da execução da ponte. Tem pessoas que não querem enxergar o futuro. O grande político Carlos Lacerda, que usava um óculos fundo de garrafa, dizia que era míope, mas que enxergava bem o que aconteceria amanhã. Quando foi feita a Rio-Niteroi, gritaram que era uma ponte que ia levar nada a lugar nenhum. E hoje ela é uma ponte que tem um tráfego carregado, com engarrafamento. Mas quem pensava só no atraso, na vanguarda, dizia que não haverá de ser. Como assim não haverá de ser? Num estado que é a 6ª maior do país, por que não pode ter a Ponte Salvador-Itaparica? Não será no governo Wagner, mas ele tomou a iniciativa de chegar e dar a saída da ponte, que poderá ser construída por um próximo governador que tenha uma visão progressista, à frente, pensando no futuro. Estamos esperando o resultado da sondagem para ter este relatório. Porque na entrada da Ilha tem o Canal da Barra, que é a parte mais profunda. Quando vem a maré baixa, praticamente as lanchas não podem chegar em Mar Grande. Mas no meio da Ilha tem o canal mais profundo. A sondagem vai nos dizer como será o projeto. O mínimo que será a ponte, segundo a projeção, é a de 12 km construída em 3 faixas com acostamento e com uma condição de dar passagem a navios. Acredito que essa vai ser a solução para a saída ao Oeste. Porque Salvador já está se ligando com Feira de Santana e, no futuro, vai ficar exatamente como o ABC paulista. Salvador e Feira vão se abraçar logo. E quando acontecer isso a BR-324 vai ser uma grande pista de engarrafamento. 
 



















BNews - Este é um assunto oportuno, porque o senhor recentemente perdeu a paciência com a ViaBahia, a operadora da BR-324. Eles foram à Assembleia Legislativa, apresentaram um novo planejamento... É suficiente?


 
 
OA – Não, não é suficiente.
 
BNews - No que tange às BRs, a 101 ainda não foi duplicada. Há uma negligência do Governo Federal com a Bahia?
 
AO – Não, não há. Há uma burocracia que hoje está atingindo em todo o Brasil. Ou se faz uma modernização da legislação ou o gestor público vai andar permanentemente com grandes dificuldades para administrar. Eu acho que o Congresso Nacional pecou muito em não aprovar o Regime Diferenciado e Contratação (RDC) para municípios e estados de uma maneira geral. Restringiu as obras da Copa e do PAC. Foi um erro muito grande. Nós estamos submetidos à lei 8066/93. Tem 20 anos. Essa legislação, para fazer licitação, é uma verdadeira queda de braço. Esta coisa do ferry, mesmo, a primeira licitação foi de pré-qualificação e a segunda de empresa. Demorou 6, 8 meses. Não tem como andar rápido. Uma coisa é uma empresa privada obter equipamento e outra coisa é o Governo do Estado publicar um edital e esperar 6 meses para receber equipamentos. Não houve negligência por parte da área federal. Esta questão da Viabahia eu posso dizer que a ANTT foi complacente na fiscalização e por isso atrasou todos os prazos. E aí gerou aquela cratera que infernizou a vida do povo baiano. Realmente eu mandei ofício para lá e depois tive que levar a público a insatisfação do povo baiano com a ANTT e logo depois eles fecharam lá a cratera. Estão fazendo a publicação da BR-116 de Feira de Santana até Ponte Paraguaçu e começaram o anel rodoviário de Feira de Santana com maior velocidade. O senador Walter Pinheiro convocou o ministro César Borges no Senado e ele foi lá, deu explicações e foi assinado um TAC para ser cumprido, já que eles não cumpriam os prazos de contrato de concessão. Os diretores de agência são eleitos para o mandato de 5 anos, mas a sessão foi aprovada para que eles fossem eleitos e ficassem numa redoma. Nem um senador da República consegue convocar diretores de agências para que eles dêem explicações em Senado ou Câmara. Pode convocar, mas ele vai se quiser. Você pode convocar um ministro, mas não pode convocar um diretor de agência. Eu acho que tem que ser um mandato menor e eles têm que estar disponíveis para o órgão oficial que o povo dispõe para fiscalização: o Poder Legislativo.
 
BNews - Esta coisa toda relativa a burocracia é um assunto sobre o qual o senhor vai e volta com alguma frequência. É correto dizer que esta hoje é sua principal bandeira política?
 
OA – Eu me coloco como candidato ao Senado para chegar lá como senador – se chegar a me eleger – reformista. Não se suporta mais a centralização de poder político, financeiro e administrativo em Brasília. Ou se restabelece o principio federativo em sua integralidade ou eu digo a você: a concentração vai o Brasil a logo, logo ter um governador que vai sair do palácio para a governadoria apenas para pagar o salário, o custeio operacional da máquina e ficar com capacidade nenhuma de investimento. Porque no ano passado o ICMS não deu para pagar a folha de pessoal. Ele deu R$ 11,5 bilhões. Tira 25% para os municípios. O que restou não deu para pagar a folhe de pessoal. Aí pensam que é uma folha de pagamentos só a do Executivo. Não! O Executivo arrecada para pagar sete folhas: Executivo, 2,8% da Assembleia, 6,2% do Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, Tribunal de Contas do Estado e Município e sem contar as autarquias – tirando o Detran –, que não arrecadam. A folha está pesada demais e a arrecadação está caindo. Não fecha a conta. Assim como não fecha a conta dos municípios. Você tira aí 37 municípios da Bahia que têm ICMS alto e 380 que não têm condição. Duzentos e cinquenta e oito municípios, do semiárido, só vivem do repasse do FPM. Para vender mais automóveis baixa o IPI. O Governo federal perde um pouco, mas quem perde mais são Estado e Municípios. Agora até setembro o governador contabilizou uma perda de R$ 640 milhões do FPE. Os municípios perderam muito também.
 
BNews - Mas o que aconteceu para isto?
 
OA - Após a redemocratização e a Constituição de 1988, foi dado poder demais ao Governo Federal. Ele nunca mais aumentou imposto. Ele só diminui imposto, como o IPI. Mas o que ele fez? “Bom, imposto eu posso diminuir porque eu tenho 50% dele arrecadado, 25% é dos estados e 25% dos municípios. Eu vou fazer o seguinte: não aumento mais imposto, aumento PIS e Cofins, que são contribuições, e isso só fica para o Governo Federal”. Resultado, hoje a combinação é a seguinte: 48% de todo o bolo que o governo arrecada são as contribuições. Cinquenta e dois por cento é imposto. Os Municípios e Estados só entram nos impostos e não ganham nada nas contribuições. Ninguém toca no bolo do Governo Federal. Por isto esta romaria de prefeitos e governadores a Brasília para pedir um postinho de saúde, uma estrada, um ginásio de esportes, uma emenda. Então tudo está centralizado lá, não anda. Será que Brasília é o Brasil? Lá é um paraíso, é um Éden. Aquilo lá é um negócio diferente. O dinheiro jorra. Mas Brasília é Chorrochó? Brasília é Uauá? A centralização vai liquidar com um país chamado Brasil. Tem que fazer uma revisão pra se restabelecer o princípio federativo, como nos EUA. Lá os estados e municípios têm autonomia para tocar suas gerências corretamente. Aqui, não. Aqui, passei um ano e tanto pedindo a Anac, SAC e Casa Civil de Brasília para ter condição de fazer a concessão do aeroporto de Feira de Santana. Sabe de quem é o patrimônio do aeroporto de Feira? Do Governo do Estado. Mas para fazer a concessão eu tenho de pedir a Brasília. Não tem condição. Eu quero ver se eu consigo ser senador da república pra poder lutar naquele congresso para acabar com a falta de visão de quem está por lá. Não só no Senado como também na Câmara. Dizer: “vamos dar um basta. Vamos olhar para o Nordeste, para as grandes cidades, suas periferias, os prefeitos, para terem mais recursos, para fazer uma melhoria, esgoto, recuperar uma rua estrada”. Nós não temos no Brasil um estado federativo. Uma coisa são estados Unidos do Brasil. Outra coisa é a federação brasileira, que centralizou por conta dos erros dos constituintes de 1988 e colocou todo o poder em Brasília.
 
 
BNews - Todas estas reformas estavam na agenda política e eleitoral do PT anteriormente, mas nunca foram feitas por ele. Hoje o senhor é um aliado do PT. Indo a Brasília, acha que há a possibilidade de sensibilizar? O jogo é este?
 
OA – Se você não começar uma luta, não acreditar, não tiver fé no que você vai fazer, não sai do lugar. O que acontece no Brasil é que nenhum partido tem maioria na Câmara e Senado. São vários partidos que compõem um aliança e cada um tem uma tendência. Eu acredito que foi um erro se acabar com a Cláusula de Barreira, que dificultava esta proliferação de partidos de classificador debaixo do braço. O partido não tem um deputado na Câmara, um senador no Senado, um deputado na Assembleia, mas tem o partido. E isso aí dificulta. Nos EUA, por exemplo, só tem Republicano e Democrata. Eu, por exemplo, me coloco como um político de centro. Eu digo sempre que em Saúde e Educação eu sou mais de esquerda do que qualquer um comunista. Mas eu acho que tem umas coisas que o Estado faz bem, sobretudo as áreas sociais. Mas o setor de produção, industrial, investimento e do comércio têm que ser pela iniciativa privada. Eu acredito em liberalismo social com grandes avanços. Nós temos uma gama enorme de partidos e no Congresso Nacional não há nenhum partido hegemônico. Talvez se fosse, poderia fazer aquilo que é necessário ao Brasil, que é a reforma tributária urgente. No pré-sal, por exemplo, o imposto não vem todo para o país e parece que a Petrobras foi criada pelos cariocas e capixabas. Não foi. Quando Getúlio montou a Petrobras, o primeiro poço foi aqui em Lobato. O Rio nem sonhava em ter esse petróleo em alto-mar. São Paulo tem quase a metade de toda a riqueza do Brasil. É um estado rico e ao longo dos anos tudo foi se concentrando nele. Essa parte do Sul, que é completamente diferente do Nordeste brasileiro, o Norte. Todos relegados a um plano inferior. Tem que levantar esta questão. Tem que dizer “chega de perder arrecadação e chega do Congresso nacional mandar mais atribuições”. Por exemplo, o Congresso criou o Programa Saúde da Família. Manda para o prefeito R$ 7.500 para contratar profissionais. Só um médico custa R$ 15 mil, R$ 20 mil. E o prefeito tem que colocar o resto. O Projovem: o prefeito tem que colocar o dinheiro. O Cras: o prefeito tem que colocar o dinheiro. O Pro-idoso, o Peti: o prefeito tem que colocar o dinheiro. E a arrecadação não aumenta. Não fecha a conta. No ano passado, os prefeitos tiveram 212 contas rejeitadas. A maioria artigo 42 da Lei da Responsabilidade Fiscal que já deveria ter sido mudado. Não vai ficar ninguém que seja ficha limpa no futuro. Os homens de bem não estão querendo entrar nisso mais. Fui deputado constituinte em 1988 aqui na Assembleia e naquela época eu só copiei o que a Constituição dizia. Não tive autonomia nenhuma para fazer nada e isso foi uma grande frustração na minha vida.
 
BNews - Daquela época para cá, já passamos por diversas experiências políticas, governos com naturezas diferentes, partidos que vão e voltam nos comandos desses governos. E esta situação não muda. Eleito senador, quem acha que é o “inimigo” a ser atacado para resolver esta situação?
 
OA – Vejo pessoas e políticos falando que a mãe das reformas do Brasil é a política. Na minha opinião, a reforma principal que o Congresso precisa fazer urgentemente e não faz é a do Código Penal. Ele é complacente com o crime. Nele, o bandido tem plenos direitos para fazer o ato hoje e ser solto amanhã. A polícia já prende sabendo que vai voltar e encontrar ele na rua no outro dia, uma semana depois. Ele é de 1942 e nunca foi reformado. Deveria ser reformado há muito tempo com a inflexibilidade da pena para o reincidente, para acabar com a impunidade. A certeza da impunidade é o que sustenta tudo isso, em todos os níveis. Do Presidente da República ao cidadão que assalta, que estupra, sequestra, quem quer que seja. Creio que se não fizer a reforma e o sentimento de impunidade continuar, dificilmente um governador de Estado vai dar segurança ao seu povo. A coisa vem se agravando. Essa talvez seja a principal reforma. Só acontece uma emendazinha no Código Penal quando tem alguma comoção social. Teve aquele assassinato brutal da filha da Glória Perez, então faz uma emenda. A Lei Maria da Penha. Agora teve o movimento de junho, corrupção crime hediondo. Tem que fazer uma reforma geral. Inclusive em alguns casos eu vou defender a prisão perpétua. Se o sujeito não tem jeito, tem que prender a vida inteira. Isso tem nos EUA, na Argentina. Sou radicalmente contra a pena de morte, mas em alguns casos vou defender que o Código Penal seja rígido naqueles casos de reincidência com desvio de conduta.
 
BNews - Entrando no assunto da política, ainda está muito indefinido o cenário eleitoral e a dúvida é se o senhor tem algum nome que defenda como preferido para encabeçar a chapa do Governo na sucessão. Ao mesmo tempo, já saíram declarações suas dizendo que é prematuro decidir isso agora. O que o senhor espera, qual a estratégia para vencer a eleição uma vez que a tendência é que se mantenha no grupo político em que está?
 
AO – Vou me manter com o governador Wagner e os partidos aliados. Eu jogo para o time. Não tenho projetos pessoais nem vaidade. Até porque, vaidade, orgulho, nariz empinado são véspera do fracasso. Eu tenho alguma experiência política de 66 anos de vida e 22 anos de política. O que vou defender é unidade do grupo e que, na formação da chapa se escolham aqueles que têm maior capacidade de juntar e de governar bem. As duas coisas têm que estar aliadas, porque às vezes o cara ganha bem e governa mal. Vamos procurar de alguma forma trabalhar nessa direção, e para isso eu vou no momento apropriado ser chamado pelo governador. Eu considero que na Bahia nunca vi se discutir tão precocemente uma sucessão como está acontecendo agora.
 
BNews - Ao que o senhor atribui isso?
 
OA – Eu não sei. Há poucos dias estava aqui em uma café da manhã com Mário Kertesz e lá estavam os candidatos discutindo sobre isso, falando que tem que escolher logo e tal. Aí o Sargento Isidório apareceu e ele anda muito com a Bíblia debaixo do braço. Aí eu lembrei de um capítulo a Bíblia, no livro de Mateus, cap 6 versículo 35 a 44, que fala sobre ansiedade. E eu pedi ao sargento que ele lesse em alto e bom som este capítulo para acabar com a ansiedade de quem quer atropelar os fatos. Na Bahia, sempre se escolheu candidato depois do Carnaval no ano da eleição. Desde janeiro desse ano que só se discute quem vai ser esse candidato. Não sei por que essa ansiedade. Eu não tenho essa ansiedade. Nunca tive.
 
BNews – Mas o senhor está dentro do núcleo duro. É um conselheiro importante para o grupo. Por que isso?
 
OA – Eu não sei. É uma coisa que eu considero extemporânea e que eu nunca vivi. No grupo que eu trabalhei, do senador Antônio Carlos, sempre se escolheu candidato depois do Carnaval no ano da eleição. Em alguns casos, ele dizia até que era melhor escolher depois da semana santa, porque o cara já rezou muito para Deus proteger e ele não escolher errado. 
 
BNews - E era escolha mesmo ou era indicação?


 
 
OA - Era mais indicação. Mas ele consultava. Ao contrário do que muitos pensam, ele consultava. Não era esse ditador todo que o pessoal falava. Ele também sabia escolher, via quem tinha vocação, quem podia fazer o bom trabalho. Essa coisa de escolher o melhor jogador é para quem tem capacidade de poder perceber realmente quem pode fazer melhor.



 


BNews - Wagner tem essa capacidade?

 
OA - Tem, tem. Wagner é um governador trabalhador, atuante, e tem uma boa inteligência política, administrativa. E ele vai escolher de acordo com as conversas com os partido aliados, com o partido dele, e o nome que ele escolher é claro que eu vou apoiar e trabalhar para fazer a sucessão, até porque ele vai herdar um legado importante de obras inconclusas que precisam ser concluídas. A exemplo da ferrovia Oeste-Leste, do Porto Sul, do metrô, que ele agora atacou e vai dar solução. Nós passamos oito anos aqui em Salvador sem prefeito, que não correspondeu à expectativa. A estabilidade e a capacidade administrativa tem que estar sempre à frente disso. O Antônio Carlos Magalhães foi governador da Bahia três vezes. Doze anos no governo. Tocou nestes 12 anos três secretários. Só de Saúde João Henrique trocou 12. Terminou com a mulher dele como secretária. Não é uma coisa que eu diga que tem sanidade mental. Foram setenta e tantos secretários que ocuparam cargos. Salvador passou oito anos à margem do processo administrativo porque não tinha prefeitura. Um prefeito de uma cidade como a nossa que teve três contas rejeitadas não é uma cosia normal.
 
BNews - Falando sobre troca de secretariado, é muito importante para a continuidade de uma gestão a questão do planejamento. O governador Wagner trocou de secretário de Planejamento cinco ou seis vezes ao longo destes anos. Todos muito bons, mas foram cinco ou seis trocas em dois mandatos...
 
OA - Não foram cinco trocas. Do que eu sei, são três, né? Teve um antes de Pinheiro, só. Foram quatro. Zezéu se afastou para assumir mandato de deputado. Em oito anos não é muito. Não compare com João Henrique (risos). Não seja advogado do diabo!
 
BNews - Os petistas têm uma filosofia muito arraigada no “do PT para o PT” e, sendo governo, aprenderam a ter de dialogar. O senhor representa uma conjuntura muito interessante neste processo, porque não renega o seu passado. Foi um adversário e esse grupo político de onde o senhor vem ainda é adversário. Onde o senhor se posiciona dentro disso?
 
OA – Pelo contrário, eu me orgulho do meu passado. Se eu não me orgulhasse do meu passado, não poderia ter presente e muito menos futuro. Meu passado foi de trabalho, de luta. Fui secretário de Saúde, de Indústria e Comércio, fui governador, trabalhei bastante. Foram só nove meses mas fiz muita coisa. Inaugurei inúmeras obras ao lado de Antônio Carlos Magalhães. Ginásios, escolas, estradas, hospitais. Eu trabalhei bastante e a minha maca é de trabalho. Eu digo que é uma frase minha: nada resiste ao trabalho. E o povo está muito sintonizado com quem trabalha. O Padre (Antônio) Vieira, que foi um grande orador, dizia uma cosia: é muito mais fácil você chegar ao coração do povo pelas obras do que pelas palavras. Eu acredito nisso piamente e estou com o governador trabalhando intensamente na minha função. O senador Antônio Carlos Magalhães foi um homem que fez muito pela Bahia, um visionário, que trouxe o Polo Petroquímico, que fez tantas obras importantes, como a Paralela. Na época em que ele começou, eu lembro que tinha um jornal aqui de oposição que dizia que era uma avenida que ia levar nada a lugar nenhum. Também quando Imbassahy fez a Luís Eduardo Magalhães, o jornal disse a mesma coisa. Hoje passa 80 mil veículos por dia. Então é não pensar, não ter visão de futuro. Eu convivo bem com os membros do PT, não tenho nenhuma dificuldade com eles. Cada um tem um jeito de ser e eu respeito isso, sou um democrata. Tive condições de em 2010 fazer uma aliança com o governador Wagner porque nunca levantei minha voz para dizer alguma coisa chula contra ele e que pudesse ser uma agressão. Nunca ataquei a pessoa. Já respondi a ataque pessoal quando fui provocado, mas não tomo a iniciativa de provocar. Mas tenho coragem o suficiente para reagir de acordo com a reação. Quando fiz a aliança, nos palanques eu sempre disse que tenho muito orgulho do que fiz ao lado do senador Antônio Carlos Magalhães. Um homem que teve seu tempo, não está mais conosco, mas me ajudou e me ensinou muito e aprendi muito com ele especialmente no que tange ao trabalho. Com muitas virtudes e alguns defeitos, como todos nós temos, mas é uma coisa que dava para conviver. 
 
BNews - Uma vez que atualmente tem estado na moda culpar o PT por todos os problemas que existem no Brasil, se aproveita muito para dizer que o partido faz “alianças espúrias” só pra se manter no poder a qualquer custo. O senhor acha que o PT faz esse tipo de coisa?
 
OA – Comigo não! Com o meu partido (PSD) não teve nenhum tipo de aliança espúria. Foi uma aliança que eu acreditei no projeto, pelo bem do meu estado. Estou certo de que estou trabalhando e contribuindo, assim como o governador também está. Eu falei há pouco que em qualquer colegiado de qualquer partido tem gente que brilha, que não brilha, que cumpre, que não cumpre, que trabalha, quem não trabalha, e tem quem desvia a conduta. O Brasil depois da redemocratização já teve um presidente da República que entrou pela frente do palácio e saiu pelos fundos: Collor de Melo. E ele não é do PT. Senadores já renunciaram para escapar de serem cassados, porque cometeram equívocos e pagaram por isso. O deputado que recentemente foi cassado, Donadon, não era do PT. Qualquer colegiado tem esse tipo de pessoa. Não estou querendo estigmatizar o PT e não é assim. Já colocaram tantas cosias contra o presidente Lula e na minha opinião ele está no mesmo nível de Getúlio, de Juscelino Kubitscheck, pelo trabalho que ele fez em beneficio do povo humilde do Br

Compartilhe por:

01 de Setembro de 2018 11h09

Utopia não existe, mas continuo acreditando

Entrevista....Ele tem embalado sucessivas gerações desde os anos 1960 — seja em parceria com Roberto Carlos, seja nas músicas que gravou sozinho ou naquelas ao lado de grandes estrelas da música brasileira. Aos 77 anos, Erasmo Carlos acaba de lançar seu

30 de Abril de 2015 20h04

Pequena Sabatina ao Artista

Não há receita para apreender as epifanias de um criador. Postulados, cânones, referências, todos eles nos falam de um pensamento analítico. No entanto, vivenciar a leitura e dela retirar algo é experiência movida fortemente pelos subterrâneos de nossa co

13 de Outubro de 2014 21h10

Leonidas Donskis - Entrevista a Isto é

Membro do Parlamento Europeu desde 2009, o filósofo, teórico político e analista social lituano Leonidas Donskis, 52 anos, é famoso pela veemência na defesa dos direitos humanos e da liberdade civil mundo afora. Em entrevista à ISTOÉ, concedida de Kaunas,