Carnaval em Salvador

18 de Fevereiro de 2012 13h02

Há espaço para todos, sejam nos blocos, na pipoca, nos camarotes estilizados. Nos percursos, a velha ordem do Rei Momo continua a mesma, Alegria! Alegria! Afinal, como disse sabiamente Moraes Moreira, "alegria é um Estado que chamamos Bahia".

 

Originário da Grécia Antiga, o Carnaval tinha por finalidade agradecer aos Deuses pela fertilidade do solo.Adotado pela Igreja Católica na Idade Média, passou a concentrar os festejos que antecediam o período de jejum, conhecido como Quaresma. Por isso, a palavra "carnaval", que é derivada da expressão latina carnis valle (carnis significa carne e valle, prazer), está relacionada com a ideia de deleite dos prazeres da carne. No Brasil e na Bahia, a comemoração extrapola o sentido religioso, sem deixar de lado a essência de sua origem: um verdadeiro extravasar de comportamentos e transbordar de sensações. Ao caminhar pela história da folia baiana, vêm à lembrança as marchinhas de Carnaval, os homens travestidos de mulheres, as caretas que intrigavam crianças. Seguimos pela entrega das chaves da cidade à figura corpulenta do Rei Momo, quando este mítico representante passa a ser o governante supremo de todos os cidadãos durante os dias de festa. A ordem é Alegria! Alegria!Passamos pelos bailes de máscaras nos tradicionais clubes, onde confetes e serpentinas completavam a magia dos pierrôs e colombinas. O Centro da cidade se tornava passarela para o desfile desta alegria em seus inúmeros blocos de fantasias e alegorias, no trajeto do Campo Grande à Praça Castro Alves. Nos idos de 1950, o antigo Ford 29 equipado com dois alto-falantes tomou as ruas da capital baiana. A velha fobica de Dodô e Osmar arrastava uma multidão sem cordas, na maior festa popular do mundo, e assim foi criado o trio elétrico - ícone do Carnaval de Salvador. Costuma-se dizer que, durante a festa, em todos os cantos e becos desta cidade respira-se um só sentimento; todos são iguais e têm a mesma sintonia: a alegria. Falar de Carnaval em Salvador passa pela emoção de ver o Afoxé Filhos de Gandhy, o "Tapete Branco da Avenida", espalhar o frescor da alfazema e distribuir guias de proteção para a multidão.Emoção em assistir ao desfile dos blocos afro, afinal Salvador é a faixa de terra mais negra do planeta depois do continente africano. Aqui se vê "o mais belo dos belos", Ilê Aiyê, desfilando na madrugada, num espetáculo único. As cores, os temas, a dança, o canto e as coreografias, tudo extasia os participantes e quem assiste de fora. O Olodum, com sua inconfundível batida, ganhou o mundo e traz as cores da Jamaica no toque do samba-reggae, sob as influências musicais de Salvador, Rio de Janeiro e República Dominicana. Um padrão rítmico, que traduz o toque de candomblé da nação Ketu, sai do Pelourinho e invade o circuito do desfile, no bumbar do Olodum. Algo realmente mágico.Nas últimas décadas, Salvador atingiu o patamar de circuito obrigatório para curtir as folias momescas e foi eleito pelo Guinness Book como maior festa de rua do planeta, juntamente com o Carnaval de New Orleans (EUA). O fobicão de Dodô e Osmar recebeu aparelhagem eletrizante; blocos e mais blocos arrastam milhares de foliões ensandecidos pelo ritmo da Axé Music, criada por Luís Caldas e modelado por outras estrelas do Carnaval. Hoje, potentes carros de som percorrem as ruas da cidade nos seis dias de folia, sob o comando de astros como Gilberto Gil, Moraes Moreira, Luís Caldas, Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Bel Marques, Durval Lelys, Paulinho Boca, Gerônimo e muitos outros.Há quem diga que o Carnaval virou produto turístico e não há mais espaço na festa para manifestações culturais; esta visão é fortemente combatida pelos organizadores e seus parceiros, como a Petrobras. Não é por acaso que a empresa investe 8 milhões de reais, no apoio à prefeitura, aos blocos afro e aos trios independentes, para que o Carnaval não perca a sua essência e continue sendo uma festa do povo, para o povo e com o povo. Há espaço para todos, sejam nos blocos, na pipoca, nos camarotes estilizados. Nos percursos, a velha ordem do Rei Momo continua a mesma, ? Alegria! Alegria! Afinal, como disse sabiamente Moraes Moreira, "alegria é um Estado que chamamos Bahia".

 

 

Darcles Andrade Oliveira

Gerente regional de Comunicação Institucional da Petrobras no Nordeste

 

Artigo Reeditado do Jornal A Tarde

 

 

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