São João 2012 é do Gonzagão

28 de Junho de 2012 20h06

Diante da inegável importância do São João para o Nordeste, é evidente que este ano, nós nordestinos vamos ter ainda mais motivos para curtir o arrasta-pé ao som da sanfona: o Centenário do Rei do Baião, o Gonzagão, o Velho Lua, o querido e saudoso mestre

O mês de junho é o momento de se fazer homenagens aos três santos católicos: Santo Antônio, São João e São Pedro. Embora as comemorações aconteçam em diversos cantos do país, sem dúvida nenhuma é aqui no Nordeste que essas festas ganham uma expressão maior. Os símbolos, as simpatias e as brincadeiras juninas são as que mais refletem a identidade de nossa região. É fato que o São João hoje tem uma expressão cultural no Nordeste com maior dimensão que o Carnaval, considerada a maior festa de rua do planeta. Afinal, o Carnaval é focado apenas em Salvador, enquanto as festas juninas acontecem praticamente nos 417 municípios do estado.
 
            Diante da inegável importância do São João para o Nordeste, é evidente que este ano, nós nordestinos vamos ter ainda mais motivos para curtir o arrasta-pé ao som da sanfona: o Centenário do Rei do Baião, o Gonzagão, o Velho Lua, o querido e saudoso mestre Luiz Gonzaga. Esse pernambucano arretado que nasceu lá pras bandas de Exu (a 700 quilômetros de Recife) filho de Ana Batista de Jesus (Dona Santana) e Januário José dos Santos. O curioso é que segundo a biografia do artista, o nome Luiz foi dado pelo pai em homenagem ao santo do dia (13). O Gonzaga foi sugestão do vigário, durante o batizado. Para completar, o predestinado Luiz Gonzaga ganhou o sobrenome Nascimento por ter nascido em dezembro, mês do nascimento de Cristo.
Luiz Gonzaga é sem dúvida nenhuma um autêntico representante da cultura nordestina. E como nordestino, me sinto no dever de integrar essa legião de brasileiros que reconhece e valoriza a obra poético-musical única que ele nos deixou. Um acervo que retrata a vida dura do sertanejo sofrido e ao mesmo tempo fala de amor, mostrando um pouco do homem sensível que ele também era. O Velho Lua era um cantador que entendia de amores perdidos em arraiás juninos. Ele conquistou o Brasil sendo fiel às suas origens, falando da seca, das tristezas e das injustiças sociais da sua terra.
Verdadeiro hino sertanejo e para muitos a grande obra-prima do rei do Baião, a música Asa Branca tem como tema a seca, que mais uma vez coloca à prova à resistência do povo nordestino. Este ano, a Bahia enfrenta a pior estiagem dos últimos 47 anos. São 266 localizados na região semiárida, área mais atingida pela seca e que representa 60% do estado. No Nordeste, mais de 400 municípios já decretaram situação de emergência. Mas apesar de todo o sofrimento, a gente sabe que a resistência e a fé ainda são as características mais marcantes do nordestino. Gonzagão costumava dizer em suas canções que a tristeza maior para o sertanejo é ter que ficar longe de sua terra.
 
Nos versos de Asa Branca, ele deixa claro que sair do sertão é algo temporário: “Espero a chuva cair de novo / Pra mim vortar pro meu sertão”. Na música Triste partida, ele conta a saga de uma família obrigada a ir para São Paulo para fugir da seca e que não consegue voltar para a terra natal. Nos versos finais, ele reafirma que apesar da seca a terra é boa e fala do sofrimento de abandoná-la: “Distante da terra / Tão seca mas boa / Exposto à garoa / A lama e o paú / Meu Deus, meu Deus / Faz pena o nortista / Tão forte, tão bravo / Viver como escravo / No Norte e no Sul.” Gonzagão assim como o engenheiro civil, jornalista e escritor Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha, sabia que “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”.
É por tudo isso e muito mais (há sempre muito que dizer sobre Gonzagão), que a edição 2012 do projeto São João do Nordeste da Petrobras vai homenagear o Centenário de Luiz Gonzaga. Como nordestinos, temos obrigação de preservar o legado do Rei do Baião. Da mesma forma que ele – considerado o Rei do Baião - sabia que tinha de respeitar o Velho Januário, nós brasileiros e principalmente os nordestinos temos que reverenciar, como bem disse o pianista, cantor e compositor Benito de Paula “Aquela sanfona branca / aquele chapéu de couro / é quem meu povo proclama / Luiz Gonzaga é de Ouro”.

Darcles Andrade, Itapebiense, Administrador de Empresas, com extensão em Responsabilidade Social


Jornal A Tarde

 

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